segunda-feira, 17 de maio de 2010

Uma reflexão sobre a mineração em Conceição do Mato Dentro



Há poucos dias estive em Conceição do Mato Dentro, cidade onde vivi toda minha infância e juventude e pela qual tenho em carinho enorme. Sempre que vou a Conceição volto de lá com as energias renovadas.

Acho a cidade tão linda! Lá sinto-me em casa em todos os locais por onde passo. Seja nas ruas, nas cachoeiras, nas montanhas, nos rios ou na casa dos meus pais, sempre estou bem.

Em Conceição encontro a outra Déborah que um dia lá viveu. Sempre que lá estou, renasço, porque volto à origem da minha história de vida.

O engraçado é que sinto que a mesma coisa acontece com todos os meus conterrâneos, amigos, conhecidos e desconhecidos, que moram fora de lá, e assim como eu, sempre que podem, retornam à Terra para matar saudades e renascer.

Respirar o ar e beber a água de Conceição é como sorver a fonte da vida.

Conceição é um lugar onde circula sempre uma energia muito positiva. É uma terra de pessoas que amam cantar, dançar, repleta de música e arte no ar.

Conceição possui um forte magnetismo que acredito seja oriundo das montanhas repletas de minério de ferro que a circundam e que infelizmente estão ameaçadas de extinção. Querem destruir nossas montanhas! Estamos todos assistindo ao início desse processo de destruição de nossos rios e montanhas, calados, mudos e cabisbaixos.

Sei que algumas pessoas defendem a exploração mineral da cidade devido aos benefícios financeiros que têm colhido. Não creio que estejam erradas, pois afinal, todos precisamos sobreviver. Mas, eu pergunto, será que vale a pena trocar nossa natureza, nosso ar, nossas águas por um pouco de dinheiro e outros bens materiais?

Temos que ter consciência de que esses empreendimentos de exploração de minério instalados no município causam e causarão cada vez mais danos, profundos e irreversíveis, à natureza em Conceição do Mato Dentro. Que cada vez mais a cidade terá a qualidade de sua água e ar comprometida assim como sua tranqüilidade e segurança.

Entendo que as pessoas que apóiam esse tipo de exploração querem melhorar de vida, garantir a sobrevivência, ter mais conforto e sonham com oportunidades de emprego e renda e com dias melhores.

São ilusões, sonhos nem sempre realizados, já que as ofertas de emprego são limitadas e quase nunca atingem os principais necessitados.

Também considero extremamente injusta a forma como essa exploração mineral acontece, de maneira imposta, de cima para baixo e além de tudo, a cidade não é devidamente recompensada pelos estragos que sofre em seu meio ambiente. As empresas ganham bilhões e a cidade, ganha quanto?

Também tenho dúvidas se as comunidades que ficam mais próximas ao local onde a mina foi instalada estão sendo respeitadas em seus direitos e indenizadas como deveriam. Fiquei sabendo que as pessoas estão sendo impedidas até mesmo de entrar em suas propriedades, impedidas do direito constitucional de ir e vir além de ter suas águas poluídas por minério, entre outros problemas.

Essas questões me preocupam, enquanto cidadã que ama sua cidade e se importa com as pessoas que nela vivem. Estão levando nosso minério, nosso ouro e nossa água e ficamos todos calados, quietos, como se o problema não nos atingisse.

Nós, conceicionenses temos que ter consciência de que esse processo é irreversível e cada vez irão destruir mais as nossas montanhas, sujar ou levar a nossa água embora e que durante os vários próximos anos nosso meio ambiente será destruído por bombas, tratores, escavadeiras, caminhões, empresas, empresários e cidadãos.

Sei que algumas vozes tentaram impedir essa exploração mas, não obtiveram êxito, pois não é fácil vencer essa luta de Davis e Golias do mundo mineral real. Mas temos a justiça para nos ajudar a buscar os direitos de nossa cidade. Não devemos desistir de exigir o que é direito de Conceição do Mato Dentro e seu povo.

Temos que fazer a nossa parte, fiscalizar e lutar para que não levem também a qualidade de vida que ainda resta de todos que vivem ou desfrutam de nossa cidade querida.

Acho que todos nós, conceicionenses, temos o direito e a obrigação de ficarmos atentos, sermos críticos e cobrarmos limites e uma contra partida à altura do que está sendo tirado de todos nós. E sejamos também solidários para com nossos conterrâneos que estão sendo diretamente atingidos por esse empreendimento, pessoas que antes viviam felizes em suas pequenas propriedades e que hoje perderam suas terras, suas referências e até mesmo sua dignidade.

Vejam agora algumas fotos de minha querida Conceição do Mato Dentro, tiradas quando lá estive pela última vez, no final do mês de abril.













9 comentários:

Quebra Cabeça disse...

Lindíssimas fotos!
Uma lástima o que essas grandes empresas fazem em nome de um suposto "desenvolvimento", com todo apoio dos nossos governantes. A riqueza vai embora e a cidade e seu povo empobrecem ainda mais.
Vc disse bem: uma ilusão de alguns moradores que vêm nesse tipo de empreendimento perspectivas de melhora de qualidade de vida. Exploração pura e simples!
Vamos torcer para que o estrago seja o menor possível! E que a comunidade continue lutando para preservar suas riquezas, sua cultura e seu patrimônio.
Bjos.

Déborah Rajão disse...

Oi, Mara,

Na verdade, além de torcer, temos que rezar também, pois o processo é irreversível,infelizmente.

Beijos e obrigada pela participação.

Gustavo Gazzinelli disse...

Oi Déborah, conheci Conceição há pouco tempo e fiquei encantado não somente com as construções históricas, mas também com a forma como as novas construções respeitaram a estética do conjunto, fazendo janelas e portas, e telhados, respeitando o que ali já estava. Isso ocorre diferente em várias cidades históricas que visito, em que o novo é colocado de forma agressiva, feia e desrespeitosa com o conjunto anterior que dá graça ao ambiente urbano.
Com a chegada da Anglo Ferrous/MMX, sabemos que a economia inflacionou, assim como os preços dos aluguéis e imóveis. E muitos começam a fazer puxadinhos e a construir imóveis de forma a detonar toda essa harmonia construtiva urbana.
Quanto ao apoio a essa mina que vai comer 12 km da Serra da Ferrugem, o que vemos em CMD é a mesma mentalidade patética de outros lugares. Nossa elite e nossa classe média são geralmente burras, não têm compromisso a não ser com os respectivos bolsos, não estudam nada, e fazem de conta que não é com eles - pelo contrário.
ONGs que se dizem ambientais em CMD tornam-se lobistas do empreendimento...
Mas devemos lembrar que além do dinheiro do Eike Batista e outros, houve a atuação decisiva do Governo Aécio Neves ao lado do Golias, que quer se alimentar da dignidade, das águas límpidas, cachoeiras e da bela paisagem que nos cerca.
Um abraço e parabéns pelo seu compromisso,
Gustavo

Déborah Rajão disse...

Você disse tudo, Gustavo!
É exatamente como você falou.

Obrigada pela sua participação e por enriquecer essa postagem com suas colocações pertinentes.

Um grande abraço.

Delza Marques disse...

Lindo texto, Déborah. Atualíssimo e muito sensível a maneira que você expressa a seu amor pela cidade natal e o que hoje ela representa no cenário vida, conforto, sustentabilidade, desenvolvimento (?) e, como bem disse, valores questionáveis...Como foi impossível evitar, que agora os conceicionences sejam ativos na cobrança de que se preserve a qualidade de vida de todos os cidadãos que compartilham a realidade imposta pela globalização e pela tecnologia, que acabam por destruir muitos conceitos sobre o que seja, verdadeiramente, vida melhor ou desenvolvimento. Que a experiência da mudança leve à reflexão, e que cada morador possa ser um agente fiscalizador das ações que possam comprometer, mais ainda, a preservação e a perpetuação da cultura e da dignidade que foram os pilares da beleza de nossa Conceição do Mato Dentro. Amei. Delza Marques.

Déborah Rajão disse...

Que bom, Delza ,que você gostou e deixou aqui seu comentário repleto de sensibilidade. Você realmente conseguiu captar e expressar em palavras os sentimentos que nutro por Conceição do Mato Dentro que são o amor, respeito e a gratidão.
E como eu gostaria de ver nossa cidade recebendo o carinho de todos os conceicionenses. Acredito que só a união de todos nós pode salvar nossa cidade do caos iminente. E é com disposição e coração aberto que me coloco nessa luta de tentar despertar nas pessoas a consciência da importância de se preservar nossa cidade e fazer com que ela e seu povo sejam respeitados.
Beijo, Delza, e obrigada mais uma vez pela visita. Volte sempre.

LLL disse...

Pena tão somente o povo de modo geral ser tão desunido por isso acontece o que querem ao invés de melhoria spara a população...


L

Anônimo disse...

É uma pena a população ser tão desunida e não ter como educação vontade de mudança com preservação e bem estar.
Deixo uma pergunta Viver bem nem sempre é ter muito dinheiro ou se globalizar e sim ambiente bom, agradável e sadio para todos o que vcs acham...

Unknown disse...

Déborah,
Venho aqui para matar as saudades de Conceição.
Parabéns pelas belas postagens.
Pena que as devoradoras de montanhas também chegaram lá.
Muitos como eu sairam da cidade em busca de trabalho, coisa rara nos velhos tempos em muitas cidades do interior.
Ficou dentro de mim muitas das imagens que vc retrata. Mas, meu coração sangra ao ver a destruição que apenas começa.
Todas as vezes que assisti a um rio secando, poluição, desmatamento e tal... pensava: Ainda bem que Conceição continua intocada....:(
Mesmo com tudo que tem mudado, ainda tem muito da velha e linda cidade.
Desejo que do muito que se perder em consequencia desta destruição, valha o sacrifício da natureza que mais uma vez se faz em nome do progresso. E que alguma coisa possa ser feita para equilibrar o desenvolvimento e meio ambiente .
Um abraço.