quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Julgamento tem que ser para todos!





A verdadeira essência, o que está realmente  por detrás da forma como foi conduzido o julgamento da mensalão é a eterna guerra política entre direita e esquerda, oprimidos e opressores, elite e ralé!

Quando a esquerda brasileira conquistou o poder através do PT, em 2002 e que começou a agir em prol dos menos favorecidos (o governo Lula incluiu 35 milhões de brasileiros pobres na classe média) a direita não gostou nada de ter que distribuir o bolo com os "miseráveis".

Hoje, grande parte desses brasileiros que eram excluídos, são respeitados como cidadãos,  abrem contas em banco, têm acesso ao crédito, à casa própria, compram carro,  têm trabalho, comida com carne todos os dias, frequentam universidades,  academias e  shoppings..Esses avanços sociais incomodam  as elites que sempre usaram essas pessoas como escravos e que sempre tiveram tudo de bom e melhor só para si.

Hoje o povo brasileiro, pertencente às classes mais baixas é reconhecido como cidadão,  pois conseguiu adentrar a classe consumidora e tem ganhado atenção  por isso (já que vivemos sob a  lógica do capitalismo selvagem, ou seja, do consumo permanente e da economia pujante)

 Bem, essas disputas, esses interesses opostos, têm provocado uma eterna guerra  midiática, através de denuncismos e até mesmo matérias inventadas. Isso acontece porque é através da mídia e seu barões nada democráticos e éticos, que a elite dominante tenta resgatar seu poder e influenciar a opinião pública de que os dirigentes de esquerda não prestam, são corruptos e não podem continuar no poder por isso.

Essa mídia, que tenta imbuir em todos o sentimento de falsa hombridade, que condena, julga, é parcial e  corrupta, obviamente não mostra que a corrupção está presente em todos os partidos, em quase todos os setores e segmentos públicos e privados do Brasil, inclusive entre os próprios veículos de comunicação.   Infelizmente,  a corrupção é endêmica, está presente entre grande parte da população, está no sangue e no dia a dia das pessoas e precisa ser combatida. Mas não podemos admitir a hipocrisia e a parcialidade. Esse combate á corrupção tem que ser feito de forma ampla e irrestrita

Eu defendo que todos os corruptos sejam banidos da nosssa política, mas tem que ser os corruptos de todos os partidos e desde que sejam declarados culpados após  um julgamento técnico, ético, apolítico, que respeite a constituição e suas regras e seja sobretudo, imparcial.

Lamentavelmente, não é isso a que estamos assistindo no Brasil, através do julgamento do mensalão do PT pelo Supremo Tribunal Federal. Existem vários outros casos de processos de mensalão no STF, que envolvem muitos outros partidos e que não são julgados. Eles foram literalmente engavetados  pelo STF.

Isso não justo! Se o STF julga o mensalão de um partido, tem que julgar dos demais. O judiciário não pode ter dois pesos e duas medidas para conduzir as demandas jurídicas do país. Se o objetivo é acabar com a corrupção ( o que considero necessário, aplaudo e apoio sempre) é preciso investigar e punir todos os corruptos do país. O STF não pode ser parcial nem ser influenciado pela imprensa e parte da opinião pública. Ele tem que ser isento e imparcial. Mas o que vimos é um STF arbitrário, que condena sem provas, que não ouve as defesas dos réus, que age para ferrar e se auto promover e não para  promover a verdadeira justiça.


Ainda sobre o julgamento do mensalão indico o texto abaixo, do Observatório da Imprensa:



JULGAMENTO DO MENSALÃO
A sentença e a execração

Por Luciano Martins Costa em 13/11/2012 na edição 720


Comentário para o programa radiofônico do OI, 13/11/2012-Observatório da Imprensa

Os jornais celebram a pena imposta ao ex-ministro José Dirceu no julgamento da Ação Penal 470, conhecida como o caso do “mensalão”. Também há profusão de referências à sentença de José Genoíno, ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, mas todo o arsenal do discurso jornalístico é dirigido contra Dirceu.

Ele incorpora, por seu temperamento incisivo e sua absoluta dedicação à política, tudo que a imprensa detesta na alternativa de poder representada pelo PT. Pela mesma razão, ele acumulou também desafetos no próprio partido, que mal conseguem dissimular o alívio por vê-lo aparentemente exilado do núcleo mandatário.

Folha de S.Pauloe Estado de S.Paulo dedicam cadernos especiais ao assunto, que de novo tem somente a definição das penas, e aproveitam para fazer a apologia do processo sobre o qual, claramente, pesou a influência da própria mídia.

Na contramão

Destaque-se, de início, a diferença entre narrativa e discurso. A narrativa, linguagem própria da literatura, ganha validade no jornalismo quando tem como pressuposto a busca da fidelidade com relação ao fato narrado. Embora literatura e jornalismo se confundam em suas origens, já faz muito tempo que se diferenciam justamente pela narrativa.

O discurso, ao contrário, não tem relação natural com nenhum dos dois gêneros. Trata-se de uma estratégia comunicacional de convencimento. O Globo, o Estadão e a Folha oferecem, nas edições de terça-feira (13/11), uma oportunidade valiosa para a análise dessa linguagem.

Os dois jornais paulistas dedicam cadernos especiais ao acontecimento, mas é na Folha que as escolhas editoriais explicitam mais claramente o propósito da execração: não há justificativa, no campo jornalístico propriamente dito, para a decisão de ilustrar a primeira página do suplemento com uma grade de cadeia sobre o título “José Dirceu é condenado a 10 anos e 10 meses de prisão”.

Mesmo em casos muito escabrosos, em que foram expostas ao público ações de autores de crimes hediondos, são raras as ocasiões em que a imprensa chegou tão baixo.

O editorial na primeira página da Folha, outra raridade descolada para o acontecimento que a imprensa considera histórico, comemora sem pudores o que os jornais consideram uma decisão jurídica exemplar.

Há divergências na própria Folha, como a que é apresentada por Janio de Freitas sob o título “A voz das provas”, mas esse texto foi publicado no espaço comum da editoria “Poder” e não foi incluído no caderno que será guardado pelos leitores.

Janio de Freitas expõe o que considera contradições do relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, afirmando que ele “se expandiu em imputações compostas só de palavras, sem provas”. Na contramão de praticamente toda a imprensa, Freitas não considera que o julgamento representa a refundação do poder Judiciário ou da própria República: na sua opinião, cresce o descrédito, e a decisão sobre as penalidades “decepciona e deprecia (o Supremo Tribunal Federal) – o que é péssimo para dentro e para fora do país”.

Um alívio para muitos

Oficialmente, a Folha considera que foi “um julgamento minucioso, que resulta em condenações fundamentadas solidamente em nexos fatuais e lógicos”. O jornal paulista, como seus pares, faz uma aposta em um novo futuro para a Justiça, e observa que “outros casos, a começar pelo das relações de Marcos Valério com o PSDB de Minas Gerais, terão de ser examinados sem demora”.

Poderiam ser acrescentados ainda outros casos que aguardam o mesmo empenho do poder Judiciário, como o escândalo do Banestado, o verdadeiro paradigma dos crimes financeiros e de corrupção no Brasil, mas nesse vespeiro ninguém – nem a imprensa – vai mexer.

O Estadão, que já havia criticado o que considerava excessos do ministro relator, em editorial intitulado “Os ‘barracos’ no STF” (09/11), sai com uma edição mais contida. Chama seu caderno especial de “Mensalão – um julgamento histórico”, mas oferece ao leitor uma coleção mais equilibrada de interpretações. Mesmo o texto conclusivo, uma entrevista na qual um historiador considera que o julgamento “pode mudar nossa cultura política”, evita o tom triunfalista.

A natureza da imprensa, composta basicamente de fragmentos de fatos que podem ou não compor a história e a própria cultura, não autoriza afirmações grandiloquentes como essa. Pode-se dizer também o contrário: que o Supremo Tribunal Federal exerceu o máximo de seu poder discricionário para consolidar uma campanha da imprensa, produzindo um fato jurídico que atende a conveniências políticas no campo oposicionista e no partido do governo.

http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/a_sentenca_e_a_execracao


Outro texto sobre o assunto que vale a pena ser conferido:


Marcos Coimbra: A mídia e os juízes

16/11/2012 12:06,


Ainda há quem duvide quando ouve que a mídia brasileira é partidarizada. Que tem posição política e a defende com unhas e dentes. Por opção ideológica e preferência político-partidária, ela é contra o PT. Desaprova os dois presidentes da República eleitos pelo partido e seus governos. Discorda, em princípio, do que dizem e fazem seus militantes e dirigentes.

Por Marcos Coimbra*


Processos contra os 40 réus do chamado mensalão. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
A chamada “grande imprensa” é formada por basicamente quatro grupos empresariais. Juntos, possuem um vasto conglomerado de negócios e atuam em todos os segmentos da indústria da comunicação. Têm um grau de hegemonia no mercado brasileiro de entretenimento e informação incomum no resto do mundo. É coisa demais na mão de gente de menos.

Afirmar que ela faz oposição ao PT e a seus governos não é uma denúncia vazia, uma “conversa de petista”. Ficou famosa, pela sinceridade, a declaração da presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e diretora-superintendente do Grupo Folha, Judith Brito, segundo quem “(…) os meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, uma vez que a oposição está profundamente fragilizada”.

Disse isso em março de 2010 e nunca se retratou ou foi desautorizada por seus pares ou empregadores. Pelo contrário. Cinco meses depois, foi reconduzida, “por aclamação”, à presidência da ANJ. Supõe-se, portanto, que suas palavras permanecem válidas e continuam a expressar o que ela e os seus pensam.

A executiva falava de maneira concreta. Ela não defendia que a mídia brasileira fizesse uma oposição abstrata, como a que aparece no aforismo “imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”. Propunha que atuasse de maneira tipicamente política: contra uns e a favor de outros. O que dizia é que, se a oposição partidária e institucionalizada falha, alguém tem de “assumir a responsabilidade”.

O modelo implícito no diagnóstico é o mesmo que leva o justiceiro para a rua. Inconformado com a ideia de que os mecanismos legais são inadequados, pega o porrete e vai à luta, pois acha que “as coisas não podem ficar como estão”.

Se os políticos do PSDB, DEM, PPS e adjacências não conseguem fazer oposição ao PT, a mídia toma o lugar. Proclama-se titular da “posição oposicionista deste país”, ainda que não tenha voto ou mandato.

Enquanto o que estava em jogo era apenas a impaciência da mídia com a democracia, nenhum problema muito grave. Por mais que seus editorialistas e comentaristas se esmerassem em novas adjetivações contra o “lulopetismo”, pouco podiam fazer.

Como dizia o imortal Ibrahim Sued, “os cães ladram e a caravana passa”, ­entendendo-se­ por caravana Lula, Dilma, o PT e sua ampla base na sociedade, formada por milhões de simpatizantes e eleitores. Aí veio o julgamento do “mensalão”. A esta altura, devem ser poucos os que ainda acreditam que a cúpula do Judiciário é apolítica. Os que continuam a crer que o Supremo Tribunal Federal (STF) é uma corte de decisão isenta e razoável.

Desde o início do ano, seus integrantes foram pródigos em declarações e atitudes inconvenientes. Envolveram-se em quizílias internas e discussões públicas. Mostraram o quanto gostavam da notoriedade que a aproximação do julgamento favorecia.

Parece que os ministros do STF são como Judith Brito: inquietos com a falta de ação dos que têm a prerrogativa legítima, acharam que “precisavam fazer alguma coisa”. Resolveram realizar, por conta própria, a reforma da política.

O STF não é o lugar para consertá-la e “limpá-la”, como gostam de dizer alguns ministros, em péssima alusão a ­noções de higienismo social. Mas o mais grave é a intencionalidade política da “reforma” a que se propuseram.

A mídia e o STF estabeleceram uma parceria. Uma pauta o outro, que fornece à primeira novos argumentos. Vão se alimentando reciprocamente, como se compartilhassem as mesmas intenções. A pretexto de “sanear as instituições”, o que desejam é atingir adversários.

O julgamento do mensalão é tão imparcial e ­equilibrado quanto a cobertura que dele faz a “grande imprensa”. Ela se apresenta como objetiva, ele como neutro. Ambos são, no ­entanto, essencialmente políticos.

As velhas raposas do jornalismo brasiliense já viram mil­ ­vezes casos como o do “mensalão”, mas se fingem escandalizadas. Vivendo durante anos na intimidade do poder, a maioria dos ministros presenciou calada esquemas para ganhar mais um ano de governo ou uma reeleição, mas agora fica ruborizada. O que ninguém imaginava era quão simples seria para a mídia ter o Supremo a seu lado. Bastavam algumas capas de revista.

E agora que se descobriram aliados, o que mais vão­ ­fazer juntos?

*Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi. Também é colunista do Correio Braziliense

Fonte: Carta Capital

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