Hoje quero parabenizar o jornal mineiro Hoje em Dia pela série de matérias muito legais que está realizando, onde mostra o lado da exploração minerária em Minas Gerais, que quase nunca é revelado.
Precisamos de mais reportagens como essas que levem as pessoas à reflexão sobre a realidade que os poderosos preferem ocultar. Sugiro que os textos sejam lidos, absorvidos e sentidos por todos que gostariam de ver nossa natureza preservada e nossa água garantida para as futuras gerações.
Corremos o risco de ficar sem nossas serras, sem nossas lindas cachoeiras, sem nossa fauna e nossa flora!
Há poucos dias, voltando de São Gonçalo do Bação (Itabirito-MG) até a BR 040 em direção a BH, passei por uma grande extensão de terra com lindas serras, vales e riachos. A área estava totalmente cercada e com algumas placas com o nome da mineradora proprietária de todo o terreno.
Logo pensei e comentei com meu marido: Realmente estamos entregando nosso Estado para as grandes empresas mineradoras, multinacionais, que aqui vêm, exploram e levam nossas riquezas minerais, destroem nossas serras, usam e poluem nossas águas, compram e cercam nossas terras, fecham nossas cachoeiras, deslocam famílias de suas comunidades, provocam dor e muito mais.
E tudo isso acontece debaixo de nossos olhos, de nossas barbas. As contrapartidas, quando existem, são mínimas e nem sempre são cumpridas. E a maioria das pessoas prefere ignorar e pensar que o problema não é delas. E enquanto isso, estamos perdendo a cada dia a nossa biodiversidade, a nossa qualidade de vida, o nosso sossego, a nossa dignidade e até mesmo a nossa história.
E isso, não tem dinheiro que pague!
Veja agora as matérias publicadas pelo Hoje em Dia:
Minas Gerais tem suas serras com os dias contados
Bruno Porto - Do Hoje em Dia
Ricardo Bastos/Hoje em Dia
Degradação - Em Itabira, o Pico do Cauê não existe mais
A relação mineração e meio ambiente é garantia de conflitos. Em Minas Gerais, Estado privilegiado em recursos naturais e maior província mineral do país, o embate das mineradoras com os defensores do meio ambiente é perene. O apetite por minério de ferro e seus retornos financeiros levou mineradoras a avançarem sobre paraísos ecológicos. O agravante da situação é que, invariavelmente, onde existe minério, existe água.
O argumento dos especialistas em mineração é o da rigidez locacional, ou seja, o minério só pode ser explorado onde está. Argumentam, ainda, que o impacto gerado é muito localizado.
Esses argumentos são prontamente rebatidos por ambientalistas, que também defendem a rigidez locacional para a preservação. Afinal, a criação de um parque, por exemplo, só pode ocorrer onde existe a convergência de características relevantes que justifiquem sua criação.
Nessa corrida pelo minério e pela preservação, as empresas mineradoras são mais velozes. O pico do Cauê, em Itabira, por exemplo, já não existe mais, destino que também terá o pico do Itabirito. Em Congonhas, a Serra de Casa de Pedra, fundo para os Doze Profetas esculpidos por Aleijadinho, está sob ameaça. As reservas de diamantes na Serra da Canastra já foram detectadas pelos radares de multinacionais.
Na prática, a sociedade deve escolher entre dois caminhos. Um deles é o da produção de uma riqueza que, ainda que significativa, tem esgotamento previsto para daqui a alguns anos, deixando um rastro de danos irreversíveis nas imensuráveis riquezas naturais, científicas e histórica.
A outra opção é a manutenção do tesouro para as presentes e futuras gerações, com seu aproveitamento em atividades que também geram riqueza para os municípios e suas populações, sem, no entanto, jamais esgotar sua fonte.
Mineração gera riqueza e discórdia nos municípios mineiros
Bruno Porto - Do Hoje em Dia
Samuel Costa
Explosão na mina da Vale em Catas Altas: população reclama da “privatização” das atrações turísticas
A mineração é protagonista duas vezes na história de Minas Gerais: nos capítulos que relatam os números da economia, é a locomotiva de um estado tipicamente exportador. O minério de ferro extraído no subsolo mineiro e que atravessou o oceano gerou receitas para as empresas de mais de US$ 14 bilhões em 2012.
Já nas páginas onde estão contadas as histórias de devastação do meio ambiente e desrespeito aos direitos humanos, o setor ganha destaque maior a cada ano. São, pelo menos, 37 conflitos de ordem ambiental e social que acontecem em 35 municípios mineiros, de acordo com o Mapa dos Conflitos do Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais (Gesta/UFMG).
São casos de impactos diretos, como poluição dos rios, escassez de água, casas vizinhas às minas caindo em virtude da detonação de explosivos e outros. Indiretamente, os municípios mineradores também sofrem impactos, como o aumento populacional que gera proliferação do tráfico de drogas e saturação dos serviços públicos, como hospitais e escolas.
Impactos
Ao longo da semana passada, o Hoje em Dia visitou cinco municípios mineradores – Itabira, Sabará, Catas Altas, Congonhas e Conceição do Mato Dentro, com o objetivo de verificar a gravidade e extensão de alguns desses conflitos. O resultado é a série de reportagens que se inicia hoje, relatando os impactos ambientais, sociais e relativos ao patrimônio histórico acarretados pela atividade extrativa.
Em Catas Altas, moradores denunciam que a Vale “privatizou” atrativos turísticos. Cachoeiras, montanhas e trilhas estão dentro das áreas que hoje pertencem à empresa. No Morro da Água Quente, próximo à mina, o pó de minério atinge casas e contamina a caixa d’água que abastece o bairro.
Em Itabira, berço da Vale, casas a poucos metros da cava da mina do Cauê estão, literalmente, caindo aos pedaços. “Eu moro aqui há 52 anos. Agora, oferecem um preço absurdo na minha casa e querem que eu saia. Eu não aceito e querem me convencer que a errada sou eu”, afirma a costureira aposentada Dirce Mary Duarte Vieira.
Em Congonhas, pelo menos três bairros – Campo das Flores, Barnabé e Pires – registram falta de água. As nascentes foram assoreadas.
Mineração deixa barragem de rejeitos na esquina de casa
Bruno Porto - Do Hoje em Dia
Ricardo Bastos/Hoje em Dia
Moradores se queixam do alteamento da barragem e da desvalorização de seus imóveis
Encardida de poeira do minério de ferro, Itabira é uma cidade aos pés de uma mina e de uma barragem de rejeitos, resultado de mais de 70 anos de exploração.
Os moradores relatam o receio de um vazamento na barragem. “Nunca aconteceu aqui, mas já aconteceu em outros lugares. Temos medo sim, até porque muitas crianças nadam na barragem”, diz a presidente da Associação dos Moradores do Bairro Bela Vista, Maria Aparecida Coelho de Souza. A bela vista que os moradores veem da janela, hoje, é uma barragem da Vale.
“Moro aqui há 27 anos, olhava da janela e via uma extensa área verde, com campo de futebol para as crianças e algumas áreas com criação de cavalos. A gente buscava água direto na nascente”, conta Elmira Maria Sena, moradora do bairro.
Aposentado pela Vale, onde trabalhava na manutenção da usina de beneficiamento de minério de ferro, João Batista Carlos reside na casa que faz divisa com a barragem de rejeitos. Deficiente auditivo em um dos ouvidos, ele responsabiliza seus tempos de operário, onde estava exposto a ruídos industriais, pela perda da audição. O galinheiro no quintal está vazio. “Alteraram um curso d’água, que agora passa quase dentro da minha casa e causa um imenso mau cheiro. Quando chove, a água de lama invade o galinheiro”, diz.
João é conhecido no bairro. Ficou famoso quando se iniciaram as obras de alteamento da barragem. “Ele se jogou na frente das máquinas”, conta Maria Aparecida.
Os moradores do Bela Vista pedem indenização para deixar suas casas. “A Vale chegou aqui, construiu a barragem, e meu imóvel desvalorizou. Minha qualidade de vida também caiu por causa do mau cheiro frequente e do esgoto, que vira e mexe estoura por causa do rejeito de minério”, diz.
Os moradores não conhecem tecnicamente como se produz o minério e suas aplicações, mas sabem como ninguém os impactos que a atividade causa. “Ninguém quer morar nesse bairro. Ninguém quer comprar minha casa”, reclama Elmira Sena.
A Vale afirma que o alteamento da Barragem no Bela Vista é discutida rotineiramente desde 2008 com as lideranças comunitárias do bairro e que desconhece qualquer impacto no sentido apontado de poluição de nascente ou estragos no esgotamento sanitário.
Sobre a poeira, sustenta que desde 2001 mantém uma Rede Automática de Monitoramento da Qualidade do Ar no município de Itabira e outras medidas que minimizam os seus efeitos, como a lavagem das ruas com caminhão-pipa.
Mineração multada em R$ 10 milhões em Congonhas
Bruno Porto - Do Hoje em Dia
Marcelo Prates/Hoje em Dia
Congonhas protesta há anos contra a poeira produzida pelos caminhões que transitam na cidade
As mineradoras Vale, Namisa e CSN, acumulam multas de mais de R$ 10 milhões por descumprimento de uma liminar da Justiça que as obriga a lavar os caminhões que trafegam no município. Os caminhões sujos seriam os principais responsáveis pela poeira que afeta toda a cidade, incluindo a Matriz de Bom Jesus do Matosinhos e os 12 profetas esculpidos por Aleijadinho em pedra sabão.
O Ministério Público de Minas Gerais tentou um acordo com as mineradoras, onde previa-se a instalação do chamado lava-rodas na entrada da cidade e a instalação de lonas nas caçambas de todos os caminhões que operam na mina e passam pela cidade. A Ferrous Resources e a Ferro Mais, empresas que atuam na região, aceitaram o acordo, mas as outras mineradoras se negaram.
O MP ingressou, então, na Justiça com ação civil pública e as empresas recorreram. Mas o MP teve liminar em seu favor publicada no início de 2012, onde estipulou-se multa diária de R$ 100 mil em caso de descumprimento. As empresas não respeitaram a liminar e os caminhões continuam sujando a cidade. Cálculo realizado pelo MP aponta para uma soma de multas diárias de R$ 10 milhões até o final do ano passado, ignoradas pelas mineradoras.
Cobrança
A Justiça ainda não executou a cobrança porque aguarda o julgamento do mérito do caso, uma vez que a ação civil pública ainda tramita.
A fiscalização dos caminhões é realizada pela Polícia Rodoviária Federal e pela Polícia de Meio Ambiente.
“A CSN e a Namisa foram as únicas mineradoras que não aceitaram nenhum tipo de negociação. A Vale pediu uma reunião recentemente e sinaliza para um acordo”, disse o promotor de Justiça da Comarca de Congonhas, Vinícius Alcântara Galvão.
De acordo com ele, o acordo que está sendo costurado com a Vale deve incluir uma compensação financeira pelos danos já causados, que seria revertida para projetos ligados a preservação do meio ambiente e do patrimônio cultural e histórico, além da lavagem dos caminhões.
Mineradoras interditam acesso a pontos turísticos e ameaçam patrimônio histórico
Bruno Porto - Do Hoje em Dia
Samuel Costa/Hoje em Dia
Impactos da mineração em Congonhas
“Temos cachoeiras maravilhosas, trilhas e um paredão, o Pico do Baiano, que é muito conhecido entre os praticantes de rapel por ser um dos mais altos da América Latina. Mas uma parte dos atrativos está em terras de mineradoras e, outra parte, tem o acesso por terras delas. Na prática, só quem já conhece esses lugares continua frequentando, e escondido. Os turistas dependem da benção da empresa”. O testemunho do morador de Catas Altas Carlos Eduardo Hosken revela um dos impactos da atividade mineradora que vai além do visual e que também influencia no turismo ecológico e de aventura.
Catas Altas era uma das últimas cidades de turismo ambiental que resistiam à descaracterização provocada pela chegada de mineradoras.
No centro histórico, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Catas Altas, reconhecida como Patrimônio Cultural brasileiro em 1939, divide a paisagem com caminhonetes 4 X 4 e ônibus que transportam funcionários da Vale, trazendo para o conjunto arquitetônico o pó de minério das minas.
“O turista que vem fica decepcionado porque não tem muito o que fazer. À cachoeira Vale das Borboletas, um lugar belíssimo, só se pode ir se a empresa deixar. O turismo se limita ao Centro, que já está feio, cheio de caminhões que trafegam sem regras e sujam a cidade de poeira”, afirma a proprietária da Pousada Ecos da Serra, em Catas Altas, Marília Costa de Faria.
Aleijadinho
Congonhas, cidade que abriga os Doze Profetas esculpidos por Aleijadinho no adro da Basílica de Bom Jesus do Matosinhos, também sofre com a descaracterização da paisagem.
O ex-prefeito Anderson Cabido aprovou, no apagar das luzes de seu governo, uma lei que permite pesquisas e abre brecha para a mineração na vertente da Serra de Casa de Pedra que fica de frente para a cidade e faz fundo à obra do mestre barroco.
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) minera a parte da Serra que não se pode ver do Centro, mas tem ambição de avançar sobre a montanha, e seus planos ganharam fôlego com a nova legislação municipal.
A Serra é tombada desde 2007 e teve seu limite de tombamento definido na recente lei, que liberou 15% do bem tombado para os interesses minerários.
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Um comentário:
Parabéns pela refinada análise, lá em 2013. Depois da tragédia crimimosa de Mariana, a indignação póstuma ganha corpo, sendo que agora "somos todos ambientalistas".Abraço.
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