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Violência cresce, mas PM "some" em Conceição do Mato Dentro
Renata Galdino - Enviada especial - Hoje em Dia


Samuel Costa/Hoje em Dia

A garçonete Eliana só volta para casa na companhia do marido, Rodrigo José Souza




CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO – Moradores de Conceição do Mato Dentro, a 167 quilômetros de Belo Horizonte, estão praticamente sem ter a quem recorrer quando precisam da polícia. A instalação do mineroduto da Anglo American fez a população da cidade passar de 18 mil para 26 mil habitantes, devido à chegada dos trabalhadores. Mas, no mesmo período, o policiamento diminuiu. Antes das obras, em 2008, eram 26. Hoje são 15 para atender a sede do município e 11 distritos.

A situação piorou este mês. Seis policiais estão de férias ou participando de um curso de formação de sargentos em Diamantina. Os outros se dividem no patrulhamento das ruas e no trabalho interno, em turnos de 12 e 24 horas. “Mas se precisar ir para a rua, vai. Inclusive eu”, diz o comandante, tenente Bruno Andrade.

Ele alega que o efetivo foi reduzido devido a aposentadorias, e que o quadro não foi reposto por falta de concurso. Há casos em que soldados pediram transferência porque não conseguiram pagar aluguel de uma casa na cidade, valor que subiu até dez vezes, como o Hoje em Dia mostrou ontem.

O resultado é que a cidade chega a ficar sem um policial sequer nas ruas em determinados horários. O tenente admite que deixou de atender a uma ocorrência de furto na última quinta-feira porque os dois únicos militares no plantão noturno tiveram que levar um preso para a cadeia de Jaboticatubas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a 170 quilômetros. A cadeia de Conceição do Mato Dentro está fechada há dois anos.

O cenário não é melhor nas polícias Rodoviária, com três homens, e de Meio Ambiente, com quatro. Até a prefeitura teve negado o atendimento a uma ocorrência de crime ambiental. “Já era a quarta viagem de um homem despejando entulho na estrada. Acionamos a PM, mas ela não conseguiu atender”, diz o secretário municipal de Planejamento e Desenvolvimento Econômico, Ricardo Guerra.

Cadeia pública

Interditada em 2011 após ação do Ministério Público Estadual, que denunciou a situação precária do imóvel, a cadeia pública de Conceição do Mato Dentro só deve ser reformada em 2014, por meio de um convênio entre a Polícia Civil e a Anglo American.

Uso de drogas e álcool faz violência aumentar

Sem divulgar estatísticas, a Polícia Militar afirmou que o aumento do tráfico de drogas e do uso de bebidas alcoólicas é responsável pela violência em Conceição do Mato Dentro. “Mas não podemos falar que a culpa é dos trabalhadores. A maioria dos casos envolve moradores”, afirma o tenente Bruno Andrade.

Uma fonte policial disse que, dos sete assassinatos em 2013 na cidade, três tinham ligação com o tráfico. Nos últimos cinco anos, não houve homicídios consumados relacionados ao uso ou venda de drogas.

“Traficantes da região metropolitana viram aqui um grande mercado consumidor, por causa de muitos trabalhadores que são usuários”, diz o comandante.

Após a “leva” de funcionários que chegou à cidade, o Ministério Público Estadual afirma que crimes contra as mulheres cresceram 30%, mas os dados ainda não foram tabulados. “Há homens que brigam com as companheiras devido a outros que vieram para as obras”, diz o promotor Marcelo Mata Machado.

Segundo a PM, o único registro formal de estupro aconteceu há dois meses e tem como vítima uma jovem de 19 anos, surda e muda. O suspeito, um trabalhador capixaba, foi preso e alega que a relação foi consensual.

Com medo, a garçonete Eliana Rodrigues Generoso, de 33 anos, só trabalha porque o marido dela a busca no fim do expediente, à meia-noite. “Quase todo dia alguém conta um caso de homem tentando agarrar mulher. Não denunciam por medo”.

O comando da PM em Minas prometeu para hoje um posicionamento sobre a situação na cidade. Já a Polícia Civil alegou “falta de tempo hábil” para comentar a questão.