Confiram esta matéria excelente que mostra a triste realidade da mineração em Conceição do Mato Dentro, uma realidade que muitos insistem em ocultar e outros tantos não querem enxergar. Gostaria de agradecer e parabenizar o jornalista Leandro Uchoas pelo excelente trabalho realizado.
MINERAÇÃO
Projeto em Conceição do Mato Dentro, ex-capital brasileira
do ecoturismo, causa impactos sociais e ambientais irreparáveis.
Leandro Uchoas
de Conceição do
Mato Dentro (MG)
“ESSA EMPRESA só trouxe sofrimento pra nós. É uma desgraça na minha vida.
É uma desgraça na nossa vida”, diz seu Expedito, meio
envergonhado, meio indignado, enquanto caminha para longe do repórter.
A região onde mora desde criança é das mais afetadas pela
instalação da mineração em Conceição do Mato Dentro, em Minas Gerais. Desde o
início das obrasda MMX de Eike Batista, posteriormente substituída pela
Anglo American, a população local convive com falta de água e luz, mau cheiro
proveniente de uma fossamal instalada no local e aglomeração de pernilongos,
atraídos pela fossa. Há, ainda, a ameaça de os moradores serem engolidos pelas
águas após a instalação de uma barragem.
Localizada a 167 quilômetros de Belo Horizonte, a cidade
sempre foi conhecida como a capital brasileira do ecoturismo. Com menos de 20
mil habitantes, e de grande beleza natural, Conceição viu milhares de pessoas
chegarem ao local para conhecer suas cachoeiras e rios.
O potencial turístico da cidade sempre foi considerado,
inclusive, subaproveitado. Nos últimos quatro anos, no entanto, o governo de
Minas Gerais mudou de ideia quanto à forma de aproveitamento econômico da cidade.
O Projeto MinasRio foi colocado em marcha, em parceria, então, com a MMX.
A proposta era aproveitar a grande mina nas serras do Sapo e
da Ferrugem para extrair minério. E um mineroduto está sendo instalado até o
nordeste do estado do Rio de Janeiro, em São João da Barra. Na cidade, Eike Batista está
construindo o Superporto do Açu, o maior porto privado do mundo. O
megaempreendimento está causando remoções de milhares de famílias e impactos
ambientais gigantescos.
O megaempreendimento está causando remoções de milhares de famílias eimpactos ambientais gigantescos
Más condições
Embora Eike tenha repassado o projeto de mineração para a
Anglo American,
os danos socioambientais em Conceição do Mato Dentro não
parecem fora desse padrão.
Basta andar pela cidade mineira para perceber os impactos.
As ruas e avenidas impressionam por estarem completamente esburacadas e sujas,
e caminhões e picapes transitam a todo momento. Os serviços públicos estão
todos saturados. Bancos, padarias, bares, correios: todos estão
sempre lotados de trabalhadores da empresa. Restaurantes transformaram-se em
grandes refeitórios.
Na cidade, as pessoas estão divididas. Há os que enxergam
oportunidade de emprego no futuro, e há os que condenam a diminuição da
qualidade de vida. No campo, a reprovação e o desgosto são unânimes.
“Há uns quatro anos, minha água começou a sujar. Eles não fi
zeram nada. Eu tinha um pomar de goiabeira, e uma área de 300 metros de peixe.
Acabou tudo. Só tem lama, óleo e sujeira. Ano passado eu perdi nove cabeças de
boi. Minha família teve problema de pele, coceira. Eles não fazem nada. Eu não
estou nem na lista dos atingidos”, diz José Adilson Gonçalves, o Zé Pepino. Os
que foram removidos, instalados em outro lugar, têm problema de água ou luz,
terra a menos, casas mal feitas e pagamento não realizado. Nem todos têm
coragem de protestar. “Agora quero fi car quietinho. Quero perder menos”, diz um
agricultor, pedindo para não ser identificado.
A pesquisadora do Laboratório de Cenários Socioambientais da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (LABCEN), Josianne Rosa
participou de um estudo em municípios com mineração. Concluiu que, em
Conceição, a atividade mineradora apresenta alto potencial de degradação dos
recursos hídricos e coloca em risco a conservação de sua alta biodiversidade. “A
mineração tende a promover desigualdade social, poluição atmosférica e aumento
do trânsito de veículos e pessoas. Esses impactos poderão inviabilizar o desenvolvimento
do turismo, o que tende a impedir a diversifi cação econômica do município,
tornando-o dependente da mineração, que apresenta prazo certo para terminar”, diz.
Segundo Josianne, a pesquisa demonstrou que, com o apoio
ostensivo do governo de Minas, o empreendimento ganhou corpo sem que todas as
condicionantes socioambientais fossem cumpridas.
Também se observou uma estratégiada empresa de desarticulação dos movimentos sociais. “As dificuldades de acesso da população atingida ao órgão responsável pelo licenciamento, que se localiza em Diamantina [distante cerca de 140 quilômetros], desqualifi cou e impediu a participação dos atingidos no processo de tomada de decisão”, acusa.
Também se observou uma estratégiada empresa de desarticulação dos movimentos sociais. “As dificuldades de acesso da população atingida ao órgão responsável pelo licenciamento, que se localiza em Diamantina [distante cerca de 140 quilômetros], desqualifi cou e impediu a participação dos atingidos no processo de tomada de decisão”, acusa.
“Eu tinha um pomar de
goiabeira, e uma área
de 300
metros de peixe.
Acabou tudo. Só tem lama,
óleo e sujeira”
Irregularidades
Em 2009,
a procuradora do Ministé-rio Público Federal (MPF) Zani
Cajueiro ajuizou ação civil pública pedindo a paralisação imediata das obras.
Alegava que as estruturas do mineroduto e do Superporto do Açu não existiam
separadamente. E que o licenciamento fora fragmentado. “Apesar de ser um empreendimento único, a mina vem sendo objeto de licenciamento pelo estado de Minas
Gerais; o mineroduto foi licenciado pelo Ibama [Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis], como se tal duto pudesse
funcionar sem o minério que provém da mina; e, fi nalmente, o Porto do Açu vem
sendo licenciado pelo estado do Rio através do Inea [Instituto Estadual do Ambiente]”,
diz, na ação.
No processo de licenciamento, os moradores questionam, por
exemplo, a Licença de Instalação (LI) concedida ao mineroduto antes do início
da mineração. Afirmam que, por lógica, o empreendimento não poderia
ser instalado sem que se soubesse se a mineração cumpriria as condicionantes
ambientais. As licenças do mineroduto foram concedidascom lacunas no Estudo de
Impacto Ambiental (EIA/Rima) e, segundo o MPF, o Ibama utilizou, na análise,
equipe técnica multidisciplinar sem a formação exigida.
O mineroduto está projetado para ser construído na serra do
Espinhaço, declarada Reserva da Biosfera pela Unesco (Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
Atravessará uma importante bacia hidrográfi ca e impactará
cerca de 600 cursos d’água. Para a advogada Flávia Barroso, a intenção
principal de Eike Batista é usar o mineroduto para levar água ao estado do Rio
de Janeiro. “Por que ele construiu lá uma usina de tratamento de água? A água que ele
vai levar de Concei-
ção é em maior volume do que a da transposição do Rio São
Francisco. Ele vai ganhar milhões de vezes mais do que com o minério”, diz.
Resistência
O veterinário Lúcio Guerra Júnior não teme a força econômica
e política do empreendimento. Ele participou de audiências públicas, mobilizou
impactados, deu informações à representação no Ministério Público, organizou
reuniões e fez boletim de ocorrência a cada irregularidade que encontrou. Os
avanços foram poucos e pontuais, embora tenham ocorrido.
Sua propriedade também está entre as afetadas. Embora se
diga cansado, Júnior sabe que sua presença é mais respeitada quando há confl
ito. Porque na interação direta com os agricultores, pessoas simples, a empresa
costuma ser mais incisiva, menos respeitosa.
Júnior também denuncia a completa falta de informação sobre
o empreendimento. A empresa estaria ocultando os passos a serem dados. Segundo
a ação do MPF, “o parecer que fundamentou (o licenciamento) não é claro quanto
à supressão de Mata Atlântica em estágio primário e secundário avançado de
regeneração, o que é absolutamente proibido.”
A empresa ainda protocolou, em 2009, relatório complementar
ao EIA/Rima informando que o traçado do mineroduto “atingirá diretamente vários
sítios históricos e arqueológicos”, sem especificar o impacto exato nessas áreas
e se haveria demolição.
Não pode ser mera coincidência
Cidade teve
cinco prefeitos
nos últimos três
anos. Turbulência
política coincide
com chegada da
mineradora
A situação política de Conceição do Mato Dentro não tem, de forma
direta, ligação com o momento de transição de modelo econômico que a cidade
vive. Mas não deixa de ser curioso que,
paralelamente às transformações, a cidade tenha tido cinco prefeitos.
Desde 2008 – curiosamente a mesma época em que a mineradora se
instalou – foram seis transições de cargo na prefeitura. A última titular,
Nelma Carvalho (PR), foi cassada no início de janeiro por improbidade administrativa.
Com seu afastamento, o vice-prefeito, Reinaldo Guimarães (PMDB), assumiu o
posto.
As eleições de 2008 terminaram com a escolha de Breno Costa
(DEM). Porém, já em 2009 ele foi cassado por suspeita de corrupção. Houve novas
eleições, mas o escolhido não pôde assumir. Filho do antecessor, Breno
Costa Júnior (DEM) foi impedido pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
Assumiu Nelma, então presidente da Câmara e aliada do exprefeito.
Em seguida, ela rompeu com Breno. Já em 2010, arriscando uma manobra para,
supostamente, empossar o presidente da Câmara, ela renunciou. A estratégia
fracassou. Conceição ficou sem prefeito por uma semana.
Sem opção
Em dezembro daquele ano, Ildeu Simões da Silva (DEM),
vice-presidente da Câmara, assumiu interinamente a prefeitura.
Logo depois, em decisão da mesa diretora da Câmara, Antônio
José da Silva Neto (PDT) venceu e administrou a cidade até a
realização de nova eleição, em fevereiro de 2011.
Nelma venceu e voltou à Prefeitura, mas foi cassada no início de janeiro. Segundo a população local, não há opções
eleitorais, mas sim uma sucessão de
prefeitos de índole questionável.
Quando se conversa com as pessoas nas ruas, observa-se a
reprovação unânime ao acúmulo de problemas
na cidade. Ruas esburacadas, aumento da prostituição e do consumo de drogas, monumentos históricos abandonados,
acúmulo de mato, precarização do sistema de saúde. Não há indício que alguma
das trocas na Prefeitura tenha se dado por pressão da Anglo American.
Entretanto, há suspeitas de insatisfação da empresa com a atuação do secretário
de Meio Ambiente, Sandro Lage.
Flagrante do desrespeito
Reportagem do Brasil de Fato presencia confl ito de terra
entre
empresa e agricultores
Durante a apuração desta reportagem, o Brasil de Fato fl
agrou um confl ito de terra entre aAnglo American e agricultores. Chegando à
propriedade dos irmãos Lúcio e Antônio Pimenta para entrevistá-los, o repórter
encontrou um carro da segurança da empresa. O veículo havia entrado no terreno
da família.
Os seguranças haviam ido abordar os irmãos, mas recuaram ao
perceber que estavam sendo fi lmados. Posteriormente, afi rmaram que asterras
invadidas eram da empresa. Dois dias antes, uma plantação havia sido destruída
no mesmo local. Lúcio Guerra Júnior estava presente, e tentou chamar a polícia, que se negou a atender à convocação. Pouco
depois, um policial chegou ao local no mesmo veículo que um representante da empresa.
Ele solicitou que se apresentasse documentação de posse das terras. Tanto Lúcio
quanto o representante da empresa apresentaram documentos que comprovariam a
posse. Todos foram para a delegacia fazer um Boletim de Ocorrência. O impasse
ainda será julgado. (LU
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Um comentário:
Estou lá neste projeto minas rio da anglo american
Estou no pé da serra cabeceira do turco
Eles tem q me pagar mas tão fazendo parece pirraça ou não sei como classifica
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