segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Anglo American invade quintal de casa para fazer mineroduto


Caso não é isolado e moradores não são reconhecidos como atingidos pela obra


Fonte O Tempo




Ary não consegue mais lenha para acender o fogão, e acorda de madrugada para garantir água

Levantou poeira. Há quatro meses, o borracheiro Ary Teixeira convive a contragosto com máquinas no quintal de sua propriedade




PUBLICADO EM 23/09/13 - 03h00
ANA PAULA PEDROSA

Conceição do Mato Dentro. Até maio deste ano, o borracheiro Ary Teixeira, 50, dividia a pequena propriedade de 1,63 hectare na área rural de Conceição do Mato Dentro com outras 20 pessoas da família espalhadas em quatro casinhas simples. Nos últimos quatro meses, ele passou a compartilhar o terreno também com caminhões, tratores, escavadeiras e centenas de operários do projeto Minas-Rio, tocado pela Anglo American. Mas a convivência com as máquinas e funcionários da multinacional é forçada: Ary não foi procurado pela mineradora para negociar seu terreno e, de repente, ficou espremido entre o mineroduto, que vai passar praticamente dentro da sua casa, e a linha de transmissão que vai garantir energia ao projeto e passa a poucos metros dali.


O caso de Ary não é isolado. Na cidade, que fica a 175 km de Belo Horizonte, moradores de 20 comunidades rurais reclamam que são atingidos de alguma forma pela gigantesca obra, mas não foram incluídos nas listas de impactados elaboradas pela empresa. Os que são reconhecidamente atingidos têm direito a indenização de R$ 35 mil por hectare, reassentamento em área de 20 hectares para o chefe da família, 10 hectares para cada filho maior de idade que resida no local e outros 20 hectares para todos os filhos não residentes no local.


A nova moradia deve ter uma casa avaliada em pelo menos R$ 50 mil e os proprietários devem receber assistência técnica e social por três anos, além de uma cesta básica. Os termos, de acordo com o advogado Elcio Pacheco, que defende na Justiça algumas das famílias, são os mesmos empregados no caso da Usina de Irapé, da Cemig, no Norte de Minas.


“Se me derem um lugar, eu saio amanhã”, diz Ary Teixeira. O borracheiro conta que, desde que passou a morar praticamente dentro do canteiro de obras, o movimento na borracharia, que fica às margens da rodovia MG–050, caiu 80%, e mal dá para pagar as contas.


Mas os prejuízos não são apenas econômicos. A família perdeu sua privacidade e mudou sua rotina. A mulher de Ary, Antônia Teixeira, conta que a horta da família não produz mais.


Para acender o fogão, o borracheiro precisa da ajuda de parentes, que trazem lenha de outra comunidade. Antes, ele pegava no quintal de casa. Para ter água, ele acorda às 3h30, e enche um reservatório, antes que os funcionários da obra comecem a usar a água no alojamento acima de seu terreno. (APP)

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