Excelente e bem-humorada reflexão sobre essa fase da vida que muitas mulheres temem chegar, mas que pode ser uma das melhores de toda a nossa vida!
Tenho certeza que muitas mulheres que já entraram na menopausa vão amar ler e irão se identificar plenamente com tudo que a Hilda Lucas escreveu.
Divertido e sensível, vale muito a pena conferir, o texto abaixo!
“Menopausa” (texto de Hilda Lucas)
“É mais ou menos assim: um dia você acorda quadrada, ou talvez, ballonnée, ou pior, com jeito de matrona!
A menopausa não é colega – ouvi de uma mulher numa sala de espera de dermatologista. Estávamos as duas com os rostos inchados e chamuscados por lasers e peelings, folheando perversas revistas de moda e frivolidades, onde todos são jovens e felizes, depositando míseras gotículas de esperança nos raios que nos partem daqueles aparelhos de última geração. Balancei a cabeça como uma vaca no matadouro e, sem pestanejar, movida pela absoluta cumplicidade daquele instante, falei para a minha colega: A menopausa é uma filha da mãe, isso sim! Caímos na maior gargalhada e assim ela se tornou a minha primeira amiga de menopausa.
A menopausa é um sequestro. Uma versão, só para mulheres, de praga bíblica. Inferno astral que antecede a terceira idade. É tragicômica, portanto, para encarar, só rindo. Um dia você está no meio da sua normalidade, é arrancada de tudo que você tem como referencia física de si mesma e é lançada a uma espécie de funilaria às avessas. A libido diminui na mesma proporção em que aumenta a irritabilidade.
Você não só não pensa tanto, nem gosta tanto, nem se importa tanto mais com sexo, como para compensar vira uma criatura instável, pavio curto, sem paciência para nada, capaz de discutir com um poste, de deprimir à toa, ter crise de choro com anúncio de seguradora e ataque de ansiedade ao ler o jornal. Enfim, você vira uma pessoa bem complicada, ou melhor, complexa. E, até então, você achava que TPM era o pior que podia acontecer.
Os sintomas aparecem inadvertidamente , como assaltantes, em maior ou menor intensidade, bizarros e infalíveis. Lá estão eles: ressecamento – escolha onde você terá; celulite – a pele de pêssego é substituída pela casca de laranja; flacidez – é a triste irrevogabilidade da lei da gravidade; manchas senis – essas pelo menos trazem o consolo dos muitos verões bem vividos; insônia – e com ela balanços complicados da vida; calores – esses são um requinte de crueldade, tão desprovidos de sentido que nos fazem refletir sobre a transcendência da agonia dos ovos cozidos;
esquecimentos – sua memória vira uma espécie de vácuo e você passa por constrangimentos inenarráveis como aquela frase típica: “sabe aquele filme, daquele diretor, com aquela atriz, como é mesmo o nome?”
Os sintomas aparecem inadvertidamente , como assaltantes, em maior ou menor intensidade, bizarros e infalíveis. Lá estão eles: ressecamento – escolha onde você terá; celulite – a pele de pêssego é substituída pela casca de laranja; flacidez – é a triste irrevogabilidade da lei da gravidade; manchas senis – essas pelo menos trazem o consolo dos muitos verões bem vividos; insônia – e com ela balanços complicados da vida; calores – esses são um requinte de crueldade, tão desprovidos de sentido que nos fazem refletir sobre a transcendência da agonia dos ovos cozidos;
esquecimentos – sua memória vira uma espécie de vácuo e você passa por constrangimentos inenarráveis como aquela frase típica: “sabe aquele filme, daquele diretor, com aquela atriz, como é mesmo o nome?”
ossos de papel – e o perigo de tombos ridículos resultarem em cirurgias espetaculares onde pinos e próteses são implantados sem cerimônia; cabelos ralinhos de palha de milho – a sua trança de potranca virou um tererê; cintura - convexa ou quase inexistente com direito àqueles dois afundadinhos nas costas, como se você fosse feita de massinha de modelar; olhar – embaçado por uma nata azulada (catarata, não!!!) toldado por pálpebras fofas, generosas – e você começa a achar que tem ascendência mongol; juntas sacanas – com data de validade vencida e, como se não bastasse, a lembrança recente, acachapante, perturbadora e descompassada de como você era antes da menopausa. Você era jovem ontem! Que dó, que desperdício!
Esse é o ponto crucial: o estranhamento entre o que vemos e a nossa imagem interna. Não se trata da negação da velhice, da morte. Não. É bem mais simples e raso: você simplesmente não gosta do que vê! Trata-se de uma incapacidade temporária para sobrepor imagens, aceitar limitações, apurar um outro olhar.
Você ainda não tem parâmetros para entender em que você está se transformando. Você resiste bravamente. Convoca uma legião de especialistas, as forças do Bem, o exército da salvação. Faz reposição hormonal, contrata um personal, da uma passadinha na sex shop, engole quilos de soja, linhaça e sucos de cramberry, toma antidepressivo, Omega 3, aplica botox, faz drenagem linfática,
vai ao plástico, ao dermatologista, ao ortomolecular, à nutricionista, ao psicanalista, ao astrólogo, à fisioterapeuta e ouve o seu ginecologista como se ele fosse o oráculo de Delfos. Seus modelos e referências estão no passado e a menopausa – trombeta apocalítica – anuncia um futuro onde você vai ter de mostrar que aprendeu lições, mereceu cada ruga e está pronta para mais trinta anos.
A menopausa é uma puberdade invertida. E, como tal, é também casulo, travessia, transformação. Divisor de águas, experiência de deserto, freio de arrumação, faxina. Teste crucial de espírito esportivo, capacidade de adaptação e instinto de sobrevivência.
Passa. Demora, mas passa, e você sobrevive, como sobreviveu à pororoca hormonal da adolescência; você há de superar o declínio daqueles mesmos hormônios e seus asseclas que um dia já te enlouqueceram. (Esqueceu que você sobreviveu, com muito menos recursos, às cólicas, às espinhas, aos pelos encravados, aos ovários policísticos, à vergonha do próprio corpo, à oscilação de humos e à melancolia dos anos tenebrosos da adolescencia?)
E aí, passada a tempestade, vem a bonança, a libertação. Você estará livre de ter que ser bonita, magra, eficiente, querida, desejável, vencedora, fértil, competitiva, invejada, elegante, gostosa, informada, culta, legal, conectada, tudo ao mesmo tempo. Ufa!!!
Esse é o ponto crucial: o estranhamento entre o que vemos e a nossa imagem interna. Não se trata da negação da velhice, da morte. Não. É bem mais simples e raso: você simplesmente não gosta do que vê! Trata-se de uma incapacidade temporária para sobrepor imagens, aceitar limitações, apurar um outro olhar.
Você ainda não tem parâmetros para entender em que você está se transformando. Você resiste bravamente. Convoca uma legião de especialistas, as forças do Bem, o exército da salvação. Faz reposição hormonal, contrata um personal, da uma passadinha na sex shop, engole quilos de soja, linhaça e sucos de cramberry, toma antidepressivo, Omega 3, aplica botox, faz drenagem linfática,
vai ao plástico, ao dermatologista, ao ortomolecular, à nutricionista, ao psicanalista, ao astrólogo, à fisioterapeuta e ouve o seu ginecologista como se ele fosse o oráculo de Delfos. Seus modelos e referências estão no passado e a menopausa – trombeta apocalítica – anuncia um futuro onde você vai ter de mostrar que aprendeu lições, mereceu cada ruga e está pronta para mais trinta anos.
A menopausa é uma puberdade invertida. E, como tal, é também casulo, travessia, transformação. Divisor de águas, experiência de deserto, freio de arrumação, faxina. Teste crucial de espírito esportivo, capacidade de adaptação e instinto de sobrevivência.
Passa. Demora, mas passa, e você sobrevive, como sobreviveu à pororoca hormonal da adolescência; você há de superar o declínio daqueles mesmos hormônios e seus asseclas que um dia já te enlouqueceram. (Esqueceu que você sobreviveu, com muito menos recursos, às cólicas, às espinhas, aos pelos encravados, aos ovários policísticos, à vergonha do próprio corpo, à oscilação de humos e à melancolia dos anos tenebrosos da adolescencia?)
E aí, passada a tempestade, vem a bonança, a libertação. Você estará livre de ter que ser bonita, magra, eficiente, querida, desejável, vencedora, fértil, competitiva, invejada, elegante, gostosa, informada, culta, legal, conectada, tudo ao mesmo tempo. Ufa!!!
Depois dos achaques, perrengues e mudanças, a menopausa inaugura a maturidade: a síntese da mulher que você construiu ao longo dos anos, fases e etapas, a essência que fica, depois que os papéis de jovem fêmea produtiva estão cumpridos. Seu rosto é a cara da sua vida. Sua bagagem é tão grande que dá para jogar fora um monte de supérfluos e pesos mortos. Seu tempo é só seu e você não precisa provar mais nada para ninguém. seu maior desafio é ter-se tornado uma boa companhia para si mesma. Você reformula premissas, um estar no mundo mais relaxado, uma maior complacência com suas imperfeições, dificuldade e vícios. Você já não quer mudar o mundo, você quer compreende-lo; você já não precisa agradar às pessoas, você quer viver em paz e ser respeitada. Não há mais pressa; a vida vira um bom vinho a ser apreciado, com generosidade e prazer.
A menopausa é um tremendo rito de passagem. Talvez o último antes da definitiva passagem. Inevitável e necessário. Coisa de gente grande. O relógio biológico é inclemente, imparcial e, portanto, justo. Haja coragem e bom humor! Não há negociação possível, apenas a vida seguindo seu curso.
Então, que venham os ciclos, todos. Com seus sustos, sombras e transformações. Com suas libertações, rearranjos e alegrias. Que venham os dias, as horas, as marés, as auroras, todas.”
Hilda Lucas
A menopausa é um tremendo rito de passagem. Talvez o último antes da definitiva passagem. Inevitável e necessário. Coisa de gente grande. O relógio biológico é inclemente, imparcial e, portanto, justo. Haja coragem e bom humor! Não há negociação possível, apenas a vida seguindo seu curso.
Então, que venham os ciclos, todos. Com seus sustos, sombras e transformações. Com suas libertações, rearranjos e alegrias. Que venham os dias, as horas, as marés, as auroras, todas.”
Hilda Lucas
7 comentários:
Estou em plena fase de guerra contravesta (mal)dita e não vi a menor graça até agora. O pior é ler que esses sintomas são nirnais da fase e que menopausa não é doença, como se algo tão brutal e incapacitante fosse considerado normal...Penso que esta abordagem só existe porque ainda vivemos em um mundo atrasado e machista. Queria ver quantos milhões não seriam investidos em pesquisa se fosse com o homem que isso passasse, como a impotência ganhou Viagra e Cialis...
Bem,finalmente alguma coisa que preste sobre menopausa. Pois as informaçoes e comentários sobre o assunto são os mais estapafurdios que já li.Em primeiro lugar, é como se não existisse recursos em pleno século 21 para o problema.Depois são citados casos isolados do problema.
É bom lembrar, no entanto que há mais de vinte anos é usado nos EUA, a reposição hormonal com progesterona bioidentica,sem qualquer risco para saúde de ninguém.
E hoje em dia fica com menopausa quem quer. Eu quando entrei na menopausa fiz o tratamento e nunca mais apresentei nenhum sintoma desagradavel,que esse fenomeno traz.
Acho que era só isso que tenho a dizer sobre o assunto
Débora, seu texto caiu como uma luva no momento que estou vivendo. Realmente não tem "a menor graça" ou então só só cabe um "sorriso amarelo". Quanto aos sintomas...vou levando como dá mas, tenho muita dificuldade de aceitar a falta de interesse dos "machos de plantão" em buscar compreender porque a "Cinderela" se transformou numa pseudo bruxa (kkk)da noite para o dia... Como se nos fosse dada outra escolha se não apenas usar (e abusar) de todos os recursos que tornem essa fase mais "tolerável".A "menopausa" deveria ser incluída na grade curricular das crianças para evitar "as nossas surpresas" e preparar melhor nossos companheiros...Abç
Muito grata pela postagem, achei q estava com algum problema psíquico, emocional, neurológico, enfim, q tava ficando louca. Estou realmente feliz e me sinto mais tranquila.Agora, como sei e estou podendo sentir, q demora, é aguardar. Obg mesmo! Abçs
entrei na menopausa aos 34 nos de forma cirurgica devido um tumor....depressão veio na hora, desanimo e saltei 20kg na balança..bem nessa época era pra eu estar em plena fase de curtição do casamento e de minha filha ....planejando um segundo filho tive essa surpresa...ainda estou desesperada, mas um passo de cada vez, se eu conseguir emagrecer ja ficarei com minha auto estima mais elevada..na luta
Texto genial, inspirador e confortante! Em meio a tanta babaquice sobre o assunto, eis que encontro uma luz no fim do túnel. Obrigada por compartilhar o texto. (os comentários também são maravilhosos. Que coisa boa é ver mulheres inteligentes se expressando, finalmente, sobre esse tema ainda tabu)
Encontrei algumas conclusões que cheguei a poucos dias! Claro que vc escreveu lindamente!
Sofro muito com as "tsunamis" de calor. É o que acaba comigo. Tenho 49 anos e, há 5 anos ele não me abandona. Como vc disse: passa. Demora, mas passa!
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