terça-feira, 29 de junho de 2010

Aborto inseguro: um problema de saúde pública

Não estou aqui para defender o aborto mas, para tentar trazer a reflexão sobre esse tema sempre tão polêmico.

Considero inadmissível que em pleno século 21 tantas mulheres continuem morrendo por conta desse procedimento que ainda, infelizmente, é considerado crime em nosso país e, por isso mesmo continua a provocar tantas mortes e desestruturar tantas famílias já constituídas.


Quando uma mulher decide que não pode ou não quer ter um filho nada nem ninguém consegue detê-la. E se não pode pagar por um aborto seguro em uma clínica com médicos ela acaba se sujeitando a procedimentos inseguros realizados por carnificeiros e colocando sua vida em risco absoluto.

Criminalizar o aborto é antes de tudo, uma injustiça social, já que a principais vítimas são sempre mulheres pobres que não têm acesso às clínicas de luxo como as mulheres de classes sociais mais altas.

Certa vez entrevistei uma médica na UFMG sobre o aborto e ela falou sobre a importância de se discutir abertamente o assunto com a sociedade por conta do elevado número de mortes maternas provocadas pelo aborto inseguro. Segundo ela, a situação é tão grave que deve ser considerada um problema de saúde pública.

Uma coisa é certa: nenhuma mulher aborta simplesmente por abortar ou por que acha bonito fazer isso. Muito pelo contrário, imagino que essa deve ser uma das decisões mais dolorosas para uma mulher, que foi feita para gerar vidas. E é justamente por conta de todo esse sofrimento que ela enfrenta ao decidir por um aborto que ela precisa de apoio psicológico e médico. E infelizmente, em nosso país, ela encontra apenas a cadeia... ou a morte.

Portanto, reflitamos sobre este assunto, sem preconceitos e sem hipocrisia, já que não adianta tentar tampar o sol com a peneira.

Leia agora a matéria abaixo que explica as consequências do aborto inseguro e mostra porque é importante a descriminalização dessa prática.por mais chocante que ela possa ser.

Estudo revela que aborto inseguro é a principal causa de morte materna no país.


Por Tatiana Félix [Terça-Feira, 29 de Junho de 2010 às 10:41hs]


Após um intenso trabalho de pesquisas sobre as consequências da prática do aborto inseguro na saúde e vida das mulheres e nos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), realizado nos estados da Bahia, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco e Rio de Janeiro, o Grupo Curumim e o Ipas Brasil apresentaram nessa segunda-feira em Brasília, Distrito Federal, a palestra "O impacto da ilegalidade do aborto na saúde das mulheres e nos serviços de saúde em cinco estados brasileiros: subsídios para o debate político".

Segundo a coordenadora do Grupo Curumim, Paula Viana, o objetivo do dossiê foi qualificar e inserir o debate nas assembleias estaduais, para que as estatísticas sobre os impactos do aborto sejam debatidas com seriedade e responsabilidade. A pesquisa revelou que o aborto está entre as principais causas de morte materna no país. Em Salvador (BA) e Petrolina (PE), por exemplo, o aborto inseguro foi a primeira causa de morte entre as mulheres.

Paula enfatizou que, apesar de a lei ser restritiva ao aborto, ela não impede a prática e, "ao mesmo tempo encobre muitos estigmas e tabus em torno do problema". Ela revelou ainda que, por ser tratado como um crime e pecado, muitos profissionais da saúde se negam a atender uma mulher em processo de abortamento, o que agrava seu estado de saúde, causando muitas vezes, sua morte.

De acordo com a pesquisa, mulheres que tiveram complicações por aborto estão entre as pacientes mais negligenciadas quanto aos cuidados de promoção da saúde reprodutiva e não são encaminhadas a serviços e profissionais capacitados. Mulheres na faixa etária entre 20 e 29 anos, são as predominantes nos diagnósticos de aborto espontâneo e aborto por razões médicas

Ela ressaltou ainda que, embora o Brasil seja um Estado laico, ou seja, independente de religião, o debate sobre aborto tem sido abordado muitas vezes pelas igrejas ou pelas bancadas políticas religiosas. Porém, em sua opinião, o problema é de saúde pública. "As igrejas não podem interferir. A igreja não tem nada que se meter em um assunto de saúde", enfatizou.

Nos cinco estados analisados, a intervenção mais utilizada para assistir mulheres que abortaram é a Curetagem Pós-aborto (CPA), procedimento que, além de ser mais caro é também o que oferece mais riscos de infecção para as pacientes. O Ministério da Saúde indica nestes casos o uso da Aspiração Manual Intra-uterina (AMIU).

Paula disse que é importante que as mulheres tenham consciência sobre seu direito a ter um tratamento de saúde digno, com acesso aos recursos mais modernos e tecnológicos que os serviços oferecem. "As mulheres têm que cobrar dos profissionais, seu direito ao atendimento", declarou. E para os profissionais da área de saúde ela fez um apelo para que as barreiras do preconceito sejam derrubadas e que a preservação da saúde seja prioridade.

Ela adiantou que em agosto será realizada uma audiência pública na Câmara Federal "para apresentar argumentos reais sobre o impacto do aborto inseguro na saúde das mulheres", e fez um apelo aos legisladores: "que eles possam legislar em favor dos direitos das mulheres".

A ação faz parte de um conjunto de estratégias, articuladas nacionalmente através da coalizão Jornadas pelo Aborto Legal e Seguro. Como o aborto é considerado ilegal no país, milhares de mulheres buscam o abortamento clandestino, para interromper uma gestação não planejada.

Veja alguns dados da pequisa:


- Mulheres negras morrem muito mais em conseqüência de abortos inseguros, quando analisada a variável raça/cor;

- Mulheres que tiveram complicações por aborto estão entre as pacientes mais negligenciadas quanto aos cuidados de promoção da saúde reprodutiva e não são encaminhadas a serviços e profissionais capacitados;

- Há predominância de mulheres jovens, entre 20 e 29 anos, nos diagnósticos de aborto espontâneo e aborto por razões médicas;

- Nos cinco estados, a intervenção mais utilizada para assistir mulheres que abortaram é a Curetagem pós-aborto (CPA), procedimento mais caro e que oferece mais riscos de infecção para as mulheres, na contramão da indicação do Ministério da Saúde de utilizar a Aspiração Manual Intra-uterina (AMIU);

- Em Salvador (BA) e Petrolina (PE), o aborto inseguro foi a primeira causa de morte materna.

Além do Grupo Curumim e do Ipas Brasil, a elaboração dos dossiês contou com a parceria de diversas organizações, como Cfemea, Jornadas pelo Direito ao Aborto Legal e Seguro, Rede Feminista de Saúde, Articulação de Mulheres Brasileiras, Frente Nacional pelo Fim da Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto, Cunha Coletivo Feminista, IMAIS-BA, Coletivo de Jovens Feministas de Pernambuco, Rede Mulheres em Articulação da Paraíba e Articulação de Mulheres do Mato Grosso do Sul.


Para ter acesso à pesquisa, visite:
www.grupocurumim.org.br.


Fonte: Revista Fórum e Grupo Curumim


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